Filiação: Maria Aguida de Mesquita e Lourenço Camelo de Mesquita
Data e local de nascimento: 18/08/1926, Ceará
Organização política ou atividade: PCB
Data e local da morte: 30/07/1977, Rio de Janeiro (RJ)
Este caso refere-se a mais um episódio de suicídio por enforcamento, o último de uma longa série de versões farsantes que os órgãos de
segurança do regime militar divulgaram tentando encobrir as reais condições da morte de presos políticos. O jornalista Elio Gaspari cuidou
de contar e informa que o pretenso suicídio de Lourenço foi o 41º suicídio alegado, o 20º enforcamento, o 11º sem vão livre.
Na cópia da cédula de identidade de Lourenço, anexada aos autos do processo formado na CEMDP, consta apenas Ceará como local de
nascimento. Viveu 15 anos com Dalva Soares Pereira, com quem teve dois filhos. Na versão militar, ele foi encontrado morto, às 8h20 do
dia 30/07/1977, na cela nº 1 do pavilhão de presídio da 1ª Companhia de Polícia do Exército, no Rio de Janeiro.
Já na certidão de óbito está escrito que Lourenço morreu às 12h, tendo como causa mortis asfixia mecânica por enforcamento. O exame
necroscópico foi firmado por Roberto Blanco dos Santos e Amadeu da Silva Lopes. A versão oficial é de que teria se enforcado, “sendo
encontrado com um laço no pescoço, formado por uma cueca preta de nylon – tipo zorba, com a outra extremidade presa ao registro da descarga
do vaso sanitário, no qual o extingo se achava sentado”.
Seu nome nunca tinha surgido antes em qualquer lista de mortos e desaparecidos políticos. Não constava também do Dossiê dos Mortos
e Desaparecidos. A CEMDP enviou ofício solicitando informações à Polícia do Exército do Rio de Janeiro a respeito do motivo da prisão de
Lourenço, mas não obteve resposta. Ao Arquivo do DOPS/RJ foram solicitadas informações, mas nada foi encontrado. Sendo assim, o deputado
Nilmário Miranda, que examinava o caso por ter pedido vistas do processo após uma primeira manifestação do relator favorável ao
indeferimento, colheu depoimentos de alguns companheiros de Lourenço, que deixaram clara a motivação política da prisão e os vínculos
que mantinha com o PCB. Em seu voto, o deputado deu destaque ao depoimento de Berenício Ferreira Pessoa:
“Berenício declarou que era militante do PCB desde 1958; que morou em Caxias por mais de 30 anos; que esteve preso após o golpe militar por
cerca de 90 dias, de onde saiu quase morto, acometido por uma crupe.(...);que foi dirigente do PCB e militava no Comitê do Partido na Estação
Ferroviária Leopoldina. Conheceu Lourenço Camelo de Mesquita por volta de 1960, já como militante do PCB. Lourenço militava no Comitê
Municipal de Duque de Caxias e ele, Berenício, no Comitê da Leopoldina. Que em 1962 houve um quebra-quebra em Caxias e que os 2 Comitês
se reuniram conjuntamente para analisar e tomar posição sobre os incidentes. Que a partir de então, 1962, tornou-se amigo do ‘China”; que
‘China’ era taxista, que militava entre motoristas de coletivos e entre taxistas. Que ‘China’ era muito conhecido pela sua militância; que em
1977 já estava morando de novo em Duque e trabalhava como representante de persianas. Neste ano houve greves de condutores rodoviários
em Duque de Caxias e que o ‘China’ assinou e lançou manifestos na cidade. Certo dia chegou em casa e sua mulher disse-lhe: ‘Cuidado! O
China foi seqüestrado hoje pela polícia. O próximo é você!’ Depois quando veio a notícia de sua morte, ninguém acreditou em suicídio. Todos
diziam: ‘mataram o China’, exatamente porque era um veterano comunista, um ativista conhecido”.
Nilmário Miranda, ao apresentar seu parecer, considerou “a descrição das circunstâncias do ‘suicídio’ grosseira e absolutamente inverossímil”.
Concluiu que foram falsificadas as circunstâncias de sua morte e que esta se deu sob inteira responsabilidade do Estado.
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FICHA
Lourenço Camelo de Mesquita
Ficha Pessoal |
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Dados Pessoais |
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Nome: | Lourenço Camelo de Mesquita |
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Dados da Militância |
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Morto ou Desaparecido: | Morto |
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Dados da repressão |
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Orgãos de repressão (envolvido na morte ou desaparecimento) | Polícia do Exército PE Brasil |
Médico legista: (envolvido na morte ou desaparecimento) | Roberto Blanco dos Santos |
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Biografia |
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Documentos |
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Parte de livro |
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