terça-feira, 1 de novembro de 2011

LOURENÇO CAMELO DE MESQUITA (1926 - 1977)


Filiação: Maria Aguida de Mesquita e Lourenço Camelo de Mesquita

Data e local de nascimento: 18/08/1926, Ceará

Organização política ou atividade: PCB

Data e local da morte: 30/07/1977, Rio de Janeiro (RJ)

Este caso refere-se a mais um episódio de suicídio por enforcamento, o último de uma longa série de versões farsantes que os órgãos de

segurança do regime militar divulgaram tentando encobrir as reais condições da morte de presos políticos. O jornalista Elio Gaspari cuidou

de contar e informa que o pretenso suicídio de Lourenço foi o 41º suicídio alegado, o 20º enforcamento, o 11º sem vão livre.

Na cópia da cédula de identidade de Lourenço, anexada aos autos do processo formado na CEMDP, consta apenas Ceará como local de

nascimento. Viveu 15 anos com Dalva Soares Pereira, com quem teve dois filhos. Na versão militar, ele foi encontrado morto, às 8h20 do

dia 30/07/1977, na cela nº 1 do pavilhão de presídio da 1ª Companhia de Polícia do Exército, no Rio de Janeiro.

Já na certidão de óbito está escrito que Lourenço morreu às 12h, tendo como causa mortis asfixia mecânica por enforcamento. O exame

necroscópico foi firmado por Roberto Blanco dos Santos e Amadeu da Silva Lopes. A versão oficial é de que teria se enforcado, “sendo

encontrado com um laço no pescoço, formado por uma cueca preta de nylon – tipo zorba, com a outra extremidade presa ao registro da descarga

do vaso sanitário, no qual o extingo se achava sentado”.

Seu nome nunca tinha surgido antes em qualquer lista de mortos e desaparecidos políticos. Não constava também do Dossiê dos Mortos

e Desaparecidos. A CEMDP enviou ofício solicitando informações à Polícia do Exército do Rio de Janeiro a respeito do motivo da prisão de

Lourenço, mas não obteve resposta. Ao Arquivo do DOPS/RJ foram solicitadas informações, mas nada foi encontrado. Sendo assim, o deputado

Nilmário Miranda, que examinava o caso por ter pedido vistas do processo após uma primeira manifestação do relator favorável ao

indeferimento, colheu depoimentos de alguns companheiros de Lourenço, que deixaram clara a motivação política da prisão e os vínculos

que mantinha com o PCB. Em seu voto, o deputado deu destaque ao depoimento de Berenício Ferreira Pessoa:

“Berenício declarou que era militante do PCB desde 1958; que morou em Caxias por mais de 30 anos; que esteve preso após o golpe militar por

cerca de 90 dias, de onde saiu quase morto, acometido por uma crupe.(...);que foi dirigente do PCB e militava no Comitê do Partido na Estação

Ferroviária Leopoldina. Conheceu Lourenço Camelo de Mesquita por volta de 1960, já como militante do PCB. Lourenço militava no Comitê

Municipal de Duque de Caxias e ele, Berenício, no Comitê da Leopoldina. Que em 1962 houve um quebra-quebra em Caxias e que os 2 Comitês

se reuniram conjuntamente para analisar e tomar posição sobre os incidentes. Que a partir de então, 1962, tornou-se amigo do ‘China”; que

‘China’ era taxista, que militava entre motoristas de coletivos e entre taxistas. Que ‘China’ era muito conhecido pela sua militância; que em

1977 já estava morando de novo em Duque e trabalhava como representante de persianas. Neste ano houve greves de condutores rodoviários

em Duque de Caxias e que o ‘China’ assinou e lançou manifestos na cidade. Certo dia chegou em casa e sua mulher disse-lhe: ‘Cuidado! O

China foi seqüestrado hoje pela polícia. O próximo é você!’ Depois quando veio a notícia de sua morte, ninguém acreditou em suicídio. Todos

diziam: ‘mataram o China’, exatamente porque era um veterano comunista, um ativista conhecido”.

Nilmário Miranda, ao apresentar seu parecer, considerou “a descrição das circunstâncias do ‘suicídio’ grosseira e absolutamente inverossímil”.

Concluiu que foram falsificadas as circunstâncias de sua morte e que esta se deu sob inteira responsabilidade do Estado.

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FICHA

Lourenço Camelo de Mesquita

Ficha Pessoal

Dados Pessoais

Nome:

Lourenço Camelo de Mesquita

Dados da Militância

Morto ou Desaparecido:

Morto
30/7/1977
Rio de Janeiro RJ Brasil
1ª Companhia da Polícia do Exército
Clandestinidade

Dados da repressão

Orgãos de repressão

(envolvido na morte ou desaparecimento)

Polícia do Exército PE Brasil

Médico legista:

(envolvido na morte ou desaparecimento)

Roberto Blanco dos Santos

Biografia

Documentos

Parte de livro
Teles, Janaína (org.). Mortos e desaparecidos políticos: reparação ou impunidade? São Paulo: Humanitas - FFLCH/USP, 2000. p.172-176. Lista de nomes dos presos políticos cujas famílias receberam indenização do governo por este ter assumido a responsabilidade pela morte ou desaparecimento dos mesmos.

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