terça-feira, 21 de junho de 2011

Sérgio Cabral viajou em jato de Eike para festa de empresário com quem tem contratos de R$ 1 bilhão


Publicada em 20/06/2011 às 23h38m
Carla Rocha, Elenilce Bottari e Fábio Vasconcellos (granderio@oglobo.com.br)

O governador Sérgio Cabral acompanha, à distância, o sepultamento de
Mariana Noleto no Cemitério São João Batista (Foto: André Teixeira /
Agência O Globo)

RIO - Três dias depois do acidente de helicóptero que caiu em Porto
Seguro, matando seis pessoas - uma vítima ainda está desaparecida -, o
estado quebrou o silêncio e informou na segunda-feira que o governador
Sérgio Cabral viajou para o Sul da Bahia num jatinho do empresário
Eike Batista, em companhia de Fernando Cavendish, dono da Delta
Construções. A empresa é uma das maiores prestadoras de serviço do
estado e recebeu, desde 2007, contratos que chegam a R$ 1 bilhão. Além
disso, também foi informado que Cabral se dirigia com o grupo para o
aniversário de Cavendish num resort, onde ficaria hospedado, mas o
acidente com a aeronave interrompeu os planos. Na segunda-feira, o
governador se licenciou do cargo, alegando razões particulares.

Cabral, ainda segundo o governo, embarcou no Aeroporto Santos Dumont
às 17h de sexta-feira no jato Legacy de Eike. Estavam a bordo o
governador, seu filho Marco Antonio e a namorada do rapaz, além de
Cavendish e sua família. Após o pouso em Porto Seguro, parte do grupo
embarcou no helicóptero para fazer a primeira viagem até o Jacumã
Ocean Resort, de propriedade do piloto, Marcelo Mattoso de Almeida -
um ex-doleiro acusado de fraude cambial há 15 anos e de crime
ambiental de sua empresa, a First Class, na Praia do Iguaçu, na Ilha
Grande, em Angra dos Reis. A decolagem foi às 18h31m, mas a aeronave
desapareceu no mar. A última visualização de radar do helicóptero
ocorreu às 18h57m. Cabral, seu filho Marco Antonio e Cavendish iriam
na segunda viagem, rumo a Jacumã. A volta do governador ao Rio, na
segunda-feira de manhã, foi num jatinho da Líder, pago pelo governo do
estado.
Eike doou R$ 750 mil para campanha

Além de Cavendish, Eike mantém estreitas relações com o estado e com o
governador. O megaempresário doou R$ 750 mil para a campanha de Cabral
em 2010. Eike se comprometeu ainda a investir R$ 40 milhões no projeto
das UPPs, a menina dos olhos da segurança do Rio.

Desta vez, a participação de Eike, ao oferecer o passeio até Porto
Seguro, não tinha relação com projetos públicos. O motivo da viagem
era o aniversário de Cavendish, comemorado sexta-feira. Os laços do
empresário e da Delta com o estado foram se estreitando nos últimos
anos. Se é o "príncipe do PAC" por conta do expressivo número de obras
do programa federal que estão na carteira de sua empresa, Cavendish é
o rei do Rio, se for considerada a generosa fatia do bolo de recursos
do estado que recebeu nos últimos anos ou está prestes a abocanhar,
por obras como a reforma do Maracanã ou do Arco Rodoviário, ambas
estimadas em R$ 1 bilhão cada. Em 2007, no primeiro ano do governo
Cabral, a Delta teve empenhos (recursos reservados para pagamento) no
valor total de R$ 67,2 milhões. No ano passado, o número deu um salto
de 655%, para R$ 506 milhões.

Nascida em Recife, a Delta ganhou impulso, no Rio, no governo Anthony
Garotinho. Hoje ocupa posição de destaque na execução orçamentária de
Cabral. Apenas em rubricas com grande concentração de obras, as cifras
se agigantam: o DER empenhou em favor da empresa, no ano passado, R$
40,1 milhões, e a Secretaria estadual de Obras, R$ 67,9 milhões. Os
dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do estado
(Siafem) foram levantados pelo gabinete do deputado Luiz Paulo Corrêa
da Rocha (PSDB).

Os números falam por si. O faturamento da Delta no estado é
crescente e nítido

- Os números falam por si. O faturamento da Delta no estado é
crescente e nítido - diz o deputado, ao comentar a estreita relação
entre o dono da Delta e o governo do estado que vazou com o acidente
de helicóptero e já repercute na Alerj.

- Após o momento doloroso, é hora de o governador dar explicações -
criticou o deputado Marcelo Freixo (PSOL). - Não fica bem ele aparecer
em festinhas de empreiteiros.

Quando se consideram os valores efetivamente pagos, a posição de
vantagem da Delta não muda. No ano passado, somente a Secretaria de
Obras pagou R$ 91 milhões à empresa, que ficou em terceiro lugar na
lista das que mais receberam da pasta, que tinha orçamento de R$ 1,1
bilhão para obras e reparos. Em primeiro lugar, com 25%, ficou o
Consórcio Rio Melhor (PAC nas favelas), com R$ 269 milhões. Detalhe: a
Delta faz parte do consórcio com Odebrecht e OAS. Outro exemplo do
longo braço da Delta é o DER. Em 2010, na rubrica obras, o órgão tinha
R$ 283 milhões e pagou 30%, ou R$ 81 milhões, à Delta, que ficou com o
maior pedaço do bolo.

Em maio, após romper com Cavendish, o dono de uma outra empresa da
área de construção, Romênio Marcelino Machado, afirmou à "Veja" que a
Delta havia contratado José Dirceu para tráfico de influência junto a
líderes petistas. Segundo a revista, Cavendish, em reunião com sócios
em 2009, teria dito que, "com alguns milhões, era possível comprar um
senador".

A Delta não se pronunciou e a assessoria de Eike informou que ele só
se manifestará nesta terça-feira.

COLABOROU Marcelo Dias (Extra)

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